Alerta Zika: 10 Anos Depois, a Luta das Mães e o Futuro Incerto das Crianças com Microcefalia
A história de Anne Caroline Rosa e seu filho Moisés, de 9 anos, é um retrato da batalha enfrentada por milhares de famílias brasileiras após a epidemia de Zika que assolou o país entre 2015 e 2016. Moisés, que nasceu com microcefalia devido à infecção pelo vírus durante a gestação de sua mãe, é um dos muitos que carregam as sequelas dessa tragédia.
Dez anos depois, como estão essas crianças e suas famílias? Quais os desafios que enfrentam e o que o futuro lhes reserva? Descubra nesta reportagem emocionante.
A Realidade Crua: Desafios e Superação
A vida de Moisés, assim como a de tantas outras crianças afetadas pela Zika, é marcada por limitações. Ele não fala, não se movimenta e depende totalmente dos cuidados de sua mãe. Em 2022, precisou passar por uma cirurgia de gastrostomia devido à dificuldade de se alimentar pela boca.
A microcefalia é apenas uma das diversas sequelas deixadas pelo vírus, que causa a Síndrome Congênita do Zika (SCZ). Essa síndrome acarreta:
- Problemas cardíacos
- Dificuldades nas articulações
- Problemas na coordenação da mastigação e deglutição
Apesar das dificuldades, Anne Caroline Rosa demonstra uma força inspiradora. Ela enfrenta o preconceito e a falta de apoio com um sorriso no rosto, dedicando sua vida aos filhos.
O Abandono e a Solidão: A Luta das Mães
Infelizmente, a história de Anne Caroline não é única. Muitas mães de crianças com microcefalia foram abandonadas pelos maridos e se viram sozinhas para cuidar de seus filhos. Elas enfrentam momentos de ansiedade, depressão e solidão, mas encontram forças umas nas outras.
Rosa, que perdeu os pais quando criança e não tem familiares próximos, se separou do marido e conta com pouca assistência do pai de seus filhos. Ela relata que ele sente vergonha de andar com Moisés em público.
Apesar disso, Rosa não se abate e faz questão de levar Moisés para passear, enfrentando o preconceito de cabeça erguida.
Uma Rede de Apoio: A Força da União
Quando precisa de ajuda, Rosa recorre a suas vizinhas Rute Freires e Lenice França, que também são mães de crianças com SCZ. Unidas pela Zika, as três se tornaram melhores amigas e uma rede de apoio essencial.
Graças a essa rede, Freires conseguiu retomar os estudos e concluir o ensino médio. França, por sua vez, aprendeu a manusear a sonda de gastrostomia para ajudar as amigas.
As três fazem parte da Associação das Famílias de Anjos do Estado de Alagoas (Afaeal), que reúne mães de crianças com microcefalia e oferece apoio e assistência.
A Luta por Direitos: A Busca por Justiça
As famílias de crianças com SCZ enfrentam dificuldades para garantir os direitos de seus filhos. Muitas sobrevivem com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e precisam lutar na Justiça para conseguir cirurgias, cadeiras de rodas, medicamentos e outros recursos.
Após dez anos de tramitação, um projeto de lei que previa reparo financeiro às famílias foi aprovado, mas vetado pelo presidente Lula. O governo federal argumentou ter substituído o PL por uma medida provisória que previa uma indenização única de R$ 60 mil, valor considerado injusto e insuficiente pelas famílias.
Um Futuro Incerto: A Busca por Respostas
Dez anos após a epidemia de Zika, muitas perguntas permanecem sem resposta. Não se sabe ao certo o que causou o declínio dos casos e se um novo surto pode voltar a acontecer.
Também não se sabe por que o Nordeste foi a região mais afetada. Pesquisas sugerem que a subnutrição materna e a contaminação da água podem ter contribuído para a maior incidência de casos na região.
Apesar das incertezas, as mães de crianças com SCZ seguem lutando por um futuro melhor para seus filhos. Elas se uniram em associações e redes de apoio, buscando garantir seus direitos e lutar por justiça.
O Que Podemos Fazer?
A história das crianças com microcefalia e suas famílias é um chamado à ação. É preciso:
- Garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade para as crianças com SCZ.
- Oferecer apoio psicológico e social às famílias.
- Investir em pesquisas para entender melhor a Zika e suas consequências.
- Lutar por políticas públicas que garantam os direitos das pessoas com deficiência.
Juntos, podemos construir um futuro mais justo e inclusivo para as crianças com microcefalia e suas famílias.