Cotas Negadas: A Luta de Estudantes Autistas para Entrar na Universidade Federal

Em uma reviravolta alarmante, estudantes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 1, o grau mais leve, estão enfrentando um desafio inesperado: a **negação de suas matrículas** em universidades federais, mesmo após serem aprovados pelas cotas destinadas a pessoas com deficiência. Essa situação tem levado muitos a recorrer à Justiça em busca de seus direitos.

Casos de Negação e a Busca por Justiça

  • Júlia Porto Alvarenga: Aprovada em Ciências da Computação na UFES, teve seu diagnóstico de TEA questionado, sendo considerada apta apenas para a cota de ansiedade social e tendo a matrícula negada.
  • Davi Ramon da Silva: Aprovado em Medicina na UFAL, foi inicialmente barrado, mas conseguiu a matrícula após uma decisão judicial provisória. “Tive que provar que o que vivi a vida inteira realmente existe”, desabafou.

O Posicionamento das Universidades

A UFES justificou sua decisão, alegando seguir a legislação vigente e adotar perícia médica devido à ausência de um instrumento nacional unificado para avaliação psicossocial. A universidade também afirma que laudos particulares são considerados apenas como indícios, necessitando confirmação por junta médica própria.

Diretrizes Nacionais: A Urgência da Padronização

Especialistas apontam para a **falta de uma diretriz nacional** para avaliação como um dos principais motivos para esses conflitos. Sem uma norma clara, cada universidade define seus próprios critérios, gerando inconsistências e injustiças.

O Que Dizem os Especialistas?

  • Laura Ceretta (UFPR): Destaca a dificuldade em perceber as limitações no autismo nível 1 e defende o modelo biopsicossocial como o mais adequado.
  • Patrícia Beltrão (USP): Explica que o diagnóstico de autismo nível 1 costuma ser tardio, com dificuldades sutis, e a falta de um instrumento nacional de avaliação biopsicossocial dificulta o trabalho das bancas.

MEC e Ministério dos Direitos Humanos em Ação

Em resposta a essa problemática, o Ministério dos Direitos Humanos está trabalhando em uma **padronização das avaliações**, utilizando o Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado (IFBrM), já utilizado pelo INSS. O MEC, por sua vez, está finalizando uma parceria com o MDHC para capacitar profissionais para atuação em bancas nas universidades federais.

Soluções Propostas por Especialistas

  1. Uso de Índice nas Bancas: Adoção do IFBrM para medir o grau de limitação, considerando aspectos clínicos e barreiras sociais.
  2. Melhorias nos Editais: Eliminação de exigências inviáveis, como laudos médicos emitidos em prazos exíguos.
  3. Gravação das Bancas: Garantia de transparência e possibilidade de revisão do processo por avaliadores externos.
  4. Capacitação das Bancas: Treinamento dos profissionais para aplicar a avaliação biopsicossocial de forma justa e eficaz.
  5. Observatório: Criação de um observatório nacional para monitorar o acesso e a permanência de pessoas com deficiência no ensino superior.

A Luta Continua

Apesar dos desafios, a luta por inclusão e igualdade de oportunidades para estudantes autistas nas universidades federais continua. Com a padronização das avaliações, a capacitação das bancas e a criação de um observatório, espera-se que esses jovens possam ter seus direitos garantidos e acesso a uma educação de qualidade.

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