Luiz Fernando Veríssimo: O Mestre do Humor e da Metafísica que Você Precisa Conhecer!

Luiz Fernando Veríssimo, um nome que ecoa na literatura brasileira, será eternamente lembrado por obras como ‘Comédias da Vida Privada’ e ‘As Mentiras que os Homens Contam’. No entanto, reduzi-lo a um simples cronista de humor cotidiano seria uma injustiça à grandiosidade de sua produção.

Veríssimo, com sua escrita refinada, ousou fazer piada com a metafísica, algo inédito entre os grandes escritores brasileiros. Ele partiu do trivial para alcançar o cósmico, utilizando o humor como ferramenta – um traço surpreendente em um autor notoriamente tímido e introspectivo.

O Humor como Ponte para o Insondável

Essa escolha revelou sua visão estética e ética: o indecifrável pode ser divertido, o mistério, uma piada. Afinal, por que se desesperar se as respostas para as grandes questões da humanidade permanecerão sempre ocultas?

Talvez, a angústia mereça um chiste, como Veríssimo demonstrava ao colocar seus personagens em situações existenciais e banais, no tênue limite entre o cômico e o absurdo.

Um Encontro Inusitado: Filosofia em Meio ao Caos

Em um de seus contos, dois antigos colegas de infância se reencontram em circunstâncias extremas: um como assaltante, o outro como vítima. O clímax ocorre na biblioteca da vítima, onde estaria o cofre. Desesperado, o assaltado tenta salvar sua vida com argumentos filosóficos improvisados.

Ele acredita que seu pensamento complexo, fruto de uma vida privilegiada, sensibilizará o criminoso. No entanto, o assaltante, representando as urgências da vida real, permanece impassível. Veríssimo nos leva a questionar: a metafísica salva ou é inútil?

A Poesia e a Metafísica: Irmãs na Busca pelo Todo

Veríssimo também ironizava a poesia, como em seu bordão “poesia numa hora dessas?”, usado em suas colunas. Eram descrições concisas de situações tensas, onde alguém, para desespero dos demais, decidia poetizar.

Assim como a metafísica, a poesia é uma tentativa apaixonada de explorar o universo. Em sua ironia, Veríssimo sugere que toda hora é propícia para a poesia e a filosofia.

Personagens Investigadores: Ed Mort e o Analista de Bagé

Dois dos personagens mais icônicos de Veríssimo são investigadores:

  • Ed Mort: Um detetive noir com toques de charlatanismo, usado pelo autor para alternar entre o teórico e o pastiche. Ed Mort representa a perplexidade diante dos mistérios do mundo, dos segredos humanos e da vaidade.
  • Analista de Bagé: Um psicanalista freudiano que combina a sabedoria dos pampas com o “joelhaço”, resolvendo os dilemas de seus pacientes com um golpe de joelho bem aplicado. O Analista reflete o fascínio de Veríssimo pela alma humana, alternando entre o sério e o irresponsável.

A Influência de Borges e a Arte da Prosa Concisa

Veríssimo frequentemente citava teorias freudianas e obras de grandes pensadores e artistas, buscando formas atraentes de discuti-los com seu público. Um de seus autores favoritos era Jorge Luis Borges, que aparecia em suas histórias jogando xadrez ou solucionando crimes.

Apesar de Borges ser visto como “complicado” e Veríssimo como “acessível”, ambos compartilham semelhanças, como os temas metafísicos disfarçados de banalidades, a prosa curta e a escolha precisa das palavras.

Assim como Borges, que preferia contos e ensaios por preguiça de escrever romances, Veríssimo dominava a arte da escrita condensada e poderosa, onde cada palavra carrega o peso de capítulos inteiros.

A Magia dos Nomes e Cenários

Veríssimo tinha o dom de criar personagens e cenários vívidos com poucas palavras. Ele nos apresentava aos “Peçanhas” das repartições públicas, aos “Almeidas” dos bares e às “Soraias” das memórias da juventude.

Com a simples frase “Ele, de tirolês. Ela, odalisca”, ele nos transportava para a atmosfera dos bailes de Carnaval, despertando nossa curiosidade sobre o desenrolar daquela história.

Um Legado de Humor e Reflexão

Com sua graça e erudição, Luis Fernando Veríssimo abordou os temas essenciais da vida: o amor, o sexo, as pessoas, a ciência, a política, o tempo e o nada.

Em seus contos atemporais, Drácula e Batman discutiram existencialismo, Einstein e Deus debateram a Teoria da Relatividade, casais improváveis se formaram e charlatães alcançaram a glória.

A vida, em sua visão absurda, pode ser eterna – assim como a obra de Veríssimo, que continuará a nos inspirar e divertir, com seus “Peçanhas”, “Almeidas” e “Ritinha”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *